quinta-feira, 3 de abril de 2014

Indicações reais e fictícias de cesariana

Atenção futuras mamães, se seu GO está afirmando a você que uma ou duas cesáreas anteriores é motivo para cesariana, que 41 semanas de gestação é motivo para cesariana, que bebê pélvico é motivo para cesariana, leia o texto abaixo e repense se esta sendo enganada pelo seu GO, caso a resposta tenha sido SIM, sinto muito, mas suas chances de passar por uma violência Obstétrica são grandes, então procure se informar direitinho, e não tenha medo de pedir ajuda ou mudar de GO.
Hoje posso dizer que só a mulher que não busca informação sobre o assunto passa por violência Obstétrica,  vamos acordar e fazer valer nossos direitos. 


Agora se você quer fazer uma cesária, isso é uma opção que cabe somente a você decidir e falar SIM, mas lembre-se nosso corpo já é preparado para parir. 


Indicações reais e fictícias de cesariana


A presente lista de indicações de cesariana circula na Internet desde 2005, quando eu publiquei a primeira versão em uma comunidade do Orkut ("Cesárea? Não, obrigada!"), e desde então tem sido amplamente divulgada, crescendo lamentavelmente a cada dia, porque estou sempre me deparando com gestantes querendo esclarecimentos ou mulheres que contam suas próprias histórias ou histórias de amigas. 
Recentemente, Ana Cristina Duarte, obstetriz e amiga, fez alguns acréscimos e organizou a lista em ordem alfabética, motivo pelo qual lhe dou os créditos da presente versão. É de domínio público, usem à vontade, mas preferentemente remetendo à fonte, ou seja, Amorim & Duarte (2012), com link para esta página da Web.
Não temos a pretensão de cobrir todas as possíveis indicações de cesariana, apenas começamos a elencar sobretudo as "não indicações" mais frequentes.
Para uma leitura mais aprofundada e baseada em evidências, eu recomendo a série de artigos que publicamos na revista Femina, "Indicações de Cesariana Baseadas em Evidências".
Segue a lista (em constante atualização):


INDICAÇÕES REAIS E FICTÍCIAS PARA A CESÁREA

Algumas indicações de cesariana
REAIS

1) Prolapso de cordão – com dilatação não completa;
2) Descolamento prematuro da placenta com feto vivo – fora do período expulsivo;
3) Placenta prévia parcial ou total (total ou centro-parcial);
4) Apresentação córmica (situação transversa) - durante o trabalho de parto (antes pode ser tentada a versão);
5) Ruptura de vasa praevia;
6) Herpes genital com lesão ativa no momento em que se inicia o trabalho de parto.

PODEM ACONTECER, PORÉM FREQUENTEMENTE SÃO DIAGNOSTICADAS DE FORMA EQUIVOCADA

1) Desproporção cefalopélvica (o diagnóstico só é possível intraparto, através de partograma e não pode ser antecipado durante a gravidez);
2) Sofrimento fetal agudo (o termo mais correto atualmente é "freqüência cardíaca fetal não-tranqüilizadora", exatamente para evitar diagnósticos equivocados baseados tão-somente em padrões anômalos de freqüência cardíaca fetal);
3) Parada de progressão que não resolve com as medidas habituais (correção da hipoatividade uterina, amniotomia), ultrapassando a linha de ação do partograma.

SITUAÇÕES ESPECIAIS EM QUE A CONDUTA DEVE SER INDIVIDUALIZADA, CONSIDERANDO-SE AS PECULIARIDADES DE CADA CASO E AS EXPECTATIVAS DA GESTANTE, APÓS INFORMAÇÃO

1) Apresentação pélvica (recomenda-se a versão cefálica externa com 37 semanas mas se não for bem sucedida, discutir riscos e benefícios com as gestantes: o parto pélvico só deve ser tentado com equipe experiente e se for essa a decisão da gestante);
2) Duas ou mais cesáreas anteriores (o risco potencial de uma ruptura uterina – variando de 0,5% - 1% - deve ser pesado contra os riscos de se repetir a cesariana, que variam desde lesão vesical até hemorragia, infecção e maior chance de histerectomia);
3) hiv/aids (cesariana eletiva indicada se HIV + com contagem de CD4 baixa ou desconhecida e/ou carga viral acima de 1.000 cópias ou desconhecida); em franco trabalho de parto e na presença de ruptura de membranas, individualizar casos.

Algumas desculpas utilizadas pelos profissionais para realizar uma DESNEcesárea (em ordem alfabética)

  1. Abdominoplastia prévia
  2. Aceleração dos batimentos fetais
  3. Adolescência
  4. Ameaça de chuva/temporal na cidade
  5. Anemia falciforme
  6. Anemia ferropriva
  7. Anencefalia
  8. Artéria umbilical única
  9. Asma
  10. Assalto ou outras formas de violência (gestante ou familiar foi vítima de assalto, então o bebê pode ficar estressado)
  11. Bacia "muito estreita" 
  12. Baixa estatura materna 
  13. Baixo ganho ponderal materno/mãe de baixo peso
  14. Bebê alto, não encaixado antes do início do trabalho de parto
  15. Bebê profundamente encaixado 
  16. Bebê que não encaixa antes do trabalho de parto
  17. Bebê "grande demais" (macrossomia fetal só é diagnosticada se o peso é maior ou igual que 4kg e não indica cesariana, salvo nos casos de diabetes materno com estimativa de peso fetal maior que   4,5kg. Não se justifica ultrassonografia a termo em gestantes de baixo risco para avaliação do peso fetal). 
  18. Bebê "pequeno demais" 
  19.  Bebê engolindo o líquido amniótico
  20. Bebê flagrado apertando o líquido amniótico durante a ultrassonografia, o que aparentemente levou a bradicardia
  21. Bolsa rota (o limite de horas é variável, para vários obstetras basta NÃO estar em trabalho de parto quando a bolsa rompe) 
  22. Calcificação da sínfise púbica (alegando-se que ocorreria em TODAS as mulheres com mais de 35 anos, impedindo o parto normal)
  23. Candidíase
  24.  Cardiopatia (o melhor parto para a maioria das cardiopatas é o vaginal) 
  25. Cegueira materna
  26. Cesárea anterior 
  27. Chlamydia, ureaplasma e mycoplasma
  28. Circular de cordão, uma, duas ou três “voltas” (campeoníssima – essa conta com a cumplicidade dos ultrassonografistas e o diagnóstico do número de voltas é absolutamente nebuloso) 
  29. Cirurgia gastrointestinal prévia 
  30. Colestase gravídica
  31. Coleta de sangue do cordão umbilical para congelamento e preservação de células-tronco
  32. Colo grosso, colo posterior, colo duro, colo alto e (paradoxalmente) colo curto
  33. Colostomia (sim, porque é melhor fazer uma incisão abdominal perto do estoma com fezes do que um parto normal bem distante da área...)
  34. Conização prévia do colo uterino
  35. Condilomas (verrugas genitais) que não provocam obstrução do canal de parto.
  36. Constipação (prisão de ventre)
  37. Cálculo renal 
  38. Data provável do parto (DPP) próximo a feriados prolongados e datas festivas (incluindo aniversário do obstetra)
  39. Datas significativas como 11/11/11 ou 12/12/12 (ainda bem que a partir de 2013 precisaremos esperar o próximo século) 
  40. Diabetes mellitus clínico ou gestacional 
  41. Diagnóstico de desproporção cefalopélvica sem sequer a gestante ter entrado em trabalho de parto e antes da dilatação de 8 a 10 cm
  42.  Dorso à direita, dorso posterior, ou dorso em qualquer outro lugar
  43. Edema de membros inferiores/edema generalizado
  44. Eletrocauterização prévia do colo uterino
  45. Endometriose em qualquer grau e localização
  46. Enxaqueca materna
  47. Epilepsia e uso de qualquer droga antiepiléptica
  48.  Escoliose
  49. Espondilite anquilosante – Qualquer espondiloartropatia
  50. Estreptococo do Grupo B (EGB) no rastreamento com cultura anovaginal entre 35-37 semanas
  51. Exérese prévia de pólipos intestinais por colonoscopia
  52. Falta de dilatação antes do trabalho de parto
  53. Feto com “unhas compridas” 
  54. Feto morto 
  55. Fibromialgia 
  56.  Fratura de cóccix em algum momento da vida
  57.  Gastroplastia prévia (parece que, em relação ao peso materno, se correr o bicho pega, se ficar o bicho come) 
  58. Gestação gemelar com os dois conceptos, ou o primeiro, em apresentação cefálica 
  59. Gestante saudável demais, correndo o risco de ter um parto fácil e muito rápido, podendo parir antes de chegar ao hospital, com risco de morte do bebê
  60. Gravidez não desejada
  61. Grumos no líquido amniótico
  62. Hemorroidas
  63. Hepatite B e hepatite C
  64. Hérnia de disco, operada ou não, em qualquer segmento da coluna vertebral
  65. Hérnia inguinal, hérnia incisional e hérnia umbilical
  66. Hiperprolactinemia 
  67. Hipertireoidismo
  68. Hipotireoidismo
  69. História de cesárea na família 
  70. História de câncer de mama ou câncer de mama na gravidez 
  71. História de depressão pós-parto
  72. História de natimorto ou óbito neonatal em gravidez anterior 
  73.  História de trombose venosa profunda 
  74. História familiar de fibrose cística do pâncreas
  75. HPV com ou sem NIC
  76. Idade materna “avançada” (limites bastante variáveis, pelo que tenho observado, mas em geral refere-se às mulheres com mais de 35 anos) 
  77.  Incisura nas artérias uterinas (pesquisada inutilmente, uma vez que não se deve realizar oplervelocimetria em uma gravidez normal) 
  78. Incontinência urinária de esforço ou estar fazendo muito xixi no final da gravidez
  79. Infecção urinária 
  80. Inseminação artificial, FIV, qualquer procedimento de fertilização assistida (pela ideia de que bebês “superdesejados” teriam melhor prognóstico com a cesárea) – motivo pelo qual esses bebês aqui no Brasil muito raramente nascem de parto normal 
  81. Insuficiência istmocervical (paradoxalmente, mulheres que têm partos muito fáceis são submetidas a cesarianas eletivas com 37 semanas SEM retirada dos pontos da circlagem) 
  82. Laparotomia prévia 
  83.  Lesão medular (habitualmente acarretando paralisia: tetraplegia, paraplegia, hemiplegia, diplegia, dependendo do nível da lesão): essas mulheres em geral são cadeirantes e podem ter partos sem dor, mas o diagnóstico não é indicação de cesárea!
  84. Líquido amniótico em excesso
  85. Magreza da mãe
  86. Malformação cardíaca fetal 
  87. Mecônio no líquido amniótico (só indica cesariana se houver associação com padrões anômalos de frequência cardíaca fetal, sugerindo sofrimento fetal)
  88. Mioma uterino (exceto se funcionar como tumor prévio) 
  89. Miscigenação racial (pelo “elevado risco” de desproporção céfalo-pélvica) 
  90. Neoplasia intraepitelial cervical (NIC) 
  91. Obesidade materna
  92. Paciente “não tem perfil para parto normal”
  93. Paciente “não ajuda para o parto normal” (momento vidente ON: “no fundo ela quer cesárea”)
  94. Parto “prolongado” ou período expulsivo “prolongado” (também os limites são muito imprecisos, dependendo da pressa do obstetra). O diagnóstico deve se apoiar no partograma. O próprio ACOG só reconhece período expulsivo prolongado mais de duas horas em primíparas e uma hora em multíparas sem analgesia ou mais de três horas em primíparas e duas horas em multíparas com analgesia. Na curva de Zhang o percentil 95 é de 3,6 horas para primíparas e 2,8 horas para multíparas) 
  95. “Passou do tempo” (diagnóstico bastante impreciso que envolve aparentemente qualquer idade gestacional a partir de 39 semanas) 
  96. Perineoplastia anterior
  97.  Pé nas costelas
  98. Pé torto congênito
  99. Placenta grau III ou II ou I ou qualquer outra classificação placentária
  100.   Placentas baixas não oclusivas do colo do útero
  101. Plaquetopenia
  102. Pólipos uterinos
  103. Possível falta de vaga em maternidade para um parto normal, caso a gestante não marque a cesárea
  104. Pouco líquido no exame ultrassonográfico (sem indicação no final da gravidez em gestantes normais)
  105. Praticar musculação ou ser atleta
  106. Pressão alta
  107. Pressão baixa
  108. Problemas oftalmológicos, incluindo miopia, grande miopia, ceratocone  e descolamento da retina 
  109.  Profissão professora
  110. Prolapso de valva mitral 
  111. Prótese de quadril
  112. Qualquer malformação fetal incompatível com a vida 
  113. Qualquer procedimento cirúrgico durante a gravidez 
  114. Queloide ou tendência a queloide podendo complicar uma episiotomia (e a cesárea não? E para que fazer episiotomia?)
  115. Reação vasovagal
  116. Sedentarismo
  117. Septo uterino/cirurgia prévia para ressecção de septo por via histeroscópica
  118. Ser bailarina 
  119. Sono fetal (bebê que dorme durante o trabalho de parto)
  120. Suspeita ecográfica de mecônio no líquido amniótico 
  121. Síndrome de Down e qualquer outra cromossomopatia
  122. Síndrome de Ovários Policísticos (SOP)
  123.  Tabagismo 
  124. Trabalho de parto prematuro
  125. Tricomoníase
  126. Trombofilias
  127. Trombose venosa profunda
  128. Varizes uterinas 
  129. Uso de antidepressivos ou antipsicóticos
  130. Uso de aspirina
  131.  Útero bicorno
  132. Útero retrovertido
  133. Vaginose bacteriana
  134. Varizes na vulva e/ou vagina
  135. Violência urbana, impedindo obstetra (famoso) de sair de casa à noite ou alegada como pretexto para que as gestantes também não sigam o perigoso percurso até a maternidade


De autoria de Melania Amorim. 
Cujo currículo está disponível na Plataforma Lattes.
Extraído do Blog da mesma com autorização para a divulgação

Um comentário:

  1. Parabéns Daniela, precisamos dessas informações, eu mesma não sabia disso.
    Obrigada
    Patricia Caetano

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